FRIGORÍFICO NO PARANÁ É INTERDITADO POR RISCOS GRAVES E OMISSÃO DE ACIDENTES
Uma força-tarefa de fiscalização interditou o sistema de refrigeração de um grande frigorífico no Paraná após detectar uma série de irregularidades graves, incluindo a omissão de acidentes de trabalho e a exposição dos funcionários a ruídos acima do limite legal. A operação revelou que, de 700 casos de afastamentos, a empresa havia notificado ao INSS apenas 140, prejudicando diretamente a aposentadoria dos empregados e evitando o recolhimento de contribuições previdenciárias extras. Além disso, foram encontrados problemas de ergonomia que contribuíam para o adoecimento dos trabalhadores, o que expõe a falta de interesse da empresa em classificar os afastamentos como acidentários para evitar penalidades e custos adicionais. A ação reforça o alerta de que a negligência com a segurança no trabalho não é apenas uma falha moral, mas uma prática insustentável e de alto risco para qualquer negócio.
Rafael Padilha
9/7/20256 min read


FRIGORÍFICO NO PARANÁ É INTERDITADO: RISCOS GRAVES E OMISSÃO DE ACIDENTES EXPOSTOS EM FISCALIZAÇÃO
Uma operação conjunta de diversos órgãos federais e estaduais expôs uma série de graves irregularidades em um frigorífico com 3 mil empregados em Jaguapitã, no norte do Paraná. O ponto central da ação foi a interdição do sistema de refrigeração por amônia da empresa, uma medida drástica tomada devido ao risco grave e iminente à saúde e segurança dos trabalhadores.
A força-tarefa, iniciada em 1º de setembro, reuniu o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), o Ministério Público do Trabalho (MPT), a Receita Federal, o Ministério Público do Paraná (MP-PR) e a Advocacia-Geral da União (AGU). O objetivo era fiscalizar as condições de trabalho na empresa e as conclusões iniciais foram alarmantes.
OMISSÃO DE ACIDENTES E RUÍDO EXCESSIVO
Entre as principais irregularidades detectadas, a fiscalização identificou que a empresa não registrava corretamente os acidentes de trabalho, o que tem um impacto direto e negativo na vida dos funcionários. No levantamento inicial, constatou-se que, dos 700 casos de afastamentos relacionados a condições de trabalho (NTEP) registrados, a empresa havia notificado ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) apenas 140.
Além da omissão de acidentes, a operação evidenciou que setores do frigorífico operavam com níveis de ruído acima do limite de 85 decibéis permitido pela legislação. Essa não conformidade expõe os empregados a riscos graves, como danos auditivos e outros problemas de saúde.
Essa subnotificação não é apenas uma falha administrativa. Ela prejudica diretamente a aposentadoria dos trabalhadores. Segundo o delegado da Receita Federal, Reginaldo Cardoso, a empresa estaria sujeita a um recolhimento maior de contribuições previdenciárias — um adicional de 6% sobre o salário dos empregados expostos ao ruído. Esse recolhimento / alíquota extra garantiria a aposentadoria especial em 25 anos para os trabalhadores em condições de risco, como o alto nível de ruído, algo que a empresa, segundo os auditores, não estava recolhendo.
Conforme a fala do MPT, essa situação impacta a saúde dos trabalhadores de forma geral, indo além de problemas de audição, podendo afetar inclusive a saúde de trabalhadoras gestantes.
DOENÇAS OCUPACIONAIS E FALHAS ERGONÔMICAS
Os auditores-fiscais do Trabalho também identificaram problemas de ergonomia na empresa, que têm contribuído para o adoecimento dos trabalhadores. Condições inadequadas de trabalho, como posturas forçadas, movimentos repetitivos e ritmo intenso, podem levar a lesões por esforço repetitivo (LER) e outras doenças osteomusculares, impactando a saúde e a qualidade de vida dos funcionários.
A subnotificação desses casos de adoecimento ocupacional traz um problema ainda maior. Como explicou o chefe da Divisão da Atividade Especial da AGU, David Melquiades da Fonseca, a empresa não tem interesse que os afastamentos sejam classificados como acidentários. Isso porque tal classificação gera uma estabilidade trabalhista para o empregado e eleva o Fator Acidentário de Prevenção (FAP) da empresa, resultando em uma alíquota de contribuição maior.
PENALIDADES E A DEFESA DA EMPRESA
A fiscalização ainda está em andamento, e novas autuações podem ser aplicadas. Caso as infrações sejam confirmadas, o frigorífico poderá ser penalizado com multas tributárias, administrativas e trabalhistas. A empresa também pode ser responsabilizada judicialmente pelas irregularidades encontradas.
Em nota, o Grupo BTZ, responsável pelo frigorífico, informou que está à disposição das autoridades e se colocou em uma "postura altamente colaborativa". A empresa reforçou seu compromisso com a manutenção de um ambiente de trabalho adequado e repudiou "informações falsas veiculadas por canais de comunicação descompromissados com a apuração dos fatos", sem especificar quais seriam essas informações.
O caso do frigorífico em Jaguapitã reforça a importância das fiscalizações e da atuação conjunta de diferentes órgãos para garantir a segurança e os direitos dos empregados e trabalhadores no Brasil.
Se você suspeitar de irregularidades trabalhistas ou trabalho análogo ao de escravo, pode realizar denúncias por meio dos canais oficiais do governo. A plataforma principal para denúncias trabalhistas é o site denuncias.sit.trabalho.gov.br e para denúncias de trabalho análogo ao de escravo, o canal é o Sistema Ipê (https://ipe.sit.trabalho.gov.br).
CONCLUSÃO E ALERTA PARA AS EMPRESAS
O caso do frigorífico no Paraná é um lembrete severo e inegável de que a negligência com a saúde e a segurança dos trabalhadores não é apenas uma falha moral, mas também uma estratégia de negócios insustentável e perigosa. A operação conjunta de diversos órgãos demonstra que as autoridades estão atentas e preparadas para agir com rigor. A interdição e as possíveis penalidades, que vão desde multas pesadas até ações judiciais, mostram que as empresas que subnotificam acidentes, ignoram normas de segurança e falham em garantir um ambiente de trabalho decente arriscam não só a vida de seus empregados, mas a própria continuidade de suas operações.
A era da impunidade está no passado. Com a integração e o aprimoramento das fiscalizações, os riscos de ser pego em irregularidades são cada vez maiores. O custo de uma fiscalização – em multas, reputação e interrupção da produção – é infinitamente superior ao investimento em medidas preventivas.
UM ALERTA DIRETO: O CUSTO DA IRREGULARIDADE
Às empresas que ainda consideram a segurança e a saúde do trabalhador um "custo" em vez de um "investimento", o alerta é claro: a omissão custa caro demais.
Custo Financeiro: A subnotificação de acidentes e a não conformidade com as normas resultam em multas administrativas e tributárias altíssimas. O não recolhimento de adicionais de insalubridade, da aposentadoria especial e o Fator Acidentário de Prevenção (FAP) mais baixo são ganhos ilusórios que podem ser revertidos em cobranças retroativas e ações regressivas do INSS.
Custo Jurídico: A empresa pode ser processada judicialmente, enfrentando longas e custosas batalhas legais que mancham sua imagem e consomem recursos.
Custo de Reputação: A imagem de uma empresa que coloca em risco a vida de seus empregados é severamente abalada. Em um mercado cada vez mais consciente, isso pode levar à perda de clientes, investidores e talentos.
Custo Humano: O mais grave de todos, é o impacto direto na vida dos empregados e trabalhadores. Problemas de saúde, aposentadorias prejudicadas e acidentes que poderiam ser evitados são o resultado mais trágico da negligência.
O único caminho seguro e sustentável para qualquer empresa é adotar uma cultura de conformidade e cuidado. Investir em equipamentos de segurança, treinamento adequado, avaliações ergonômicas e um ambiente de trabalho livre de riscos é, no final das contas, a decisão mais inteligente e lucrativa. O sucesso verdadeiro de uma empresa é construído sobre a solidez e a ética, não sobre a exploração ou a omissão.
Fontes de Referência:
BANDNEWS FM CURITIBA. Frigorífico é interditado por risco grave a trabalhadores no Paraná. Curitiba, 2 set. 2025. Disponível em: https://bandnewsfmcuritiba.com/frigorifico-e-interditado-por-risco-grave-a-trabalhadores-no-parana/. Acesso em: 6 set. 2025.
BUSAO CURITIBA. Frigorífico é investigado por acidentes de trabalho e ruído excessivo no Paraná. Curitiba, [s. d.]. Disponível em: https://busaocuritiba.com/frigorifico-e-investigado-por-acidentes-de-trabalho-e-ruido-excessivo-no-parana/. Acesso em: 6 set. 2025.
FOLHA DE LONDRINA. Operação apura irregularidades em frigorífico de Jaguapitã. Londrina, 2 set. 2025. Disponível em: https://www.folhadelondrina.com.br/economia/operacao-apura-irregularidades-em-frigorifico-de-jaguapita-3276473e.html?d=1. Acesso em: 6 set. 2025.
GOVERNO DO BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Força-tarefa interdita sistema de refrigeração em frigorífico no Paraná por risco grave a trabalhadores. Brasília, DF, 2 set. 2025. Disponível em: https://www.gov.br/trabalho-e-emprego/pt-br/noticias-e-conteudo/2025/setembro/forca-tarefa-interdita-sistema-de-refrigeracao-em-frigorifico-no-parana-por-risco-grave-a-trabalhadores. Acesso em: 6 set. 2025.
G1. Força-tarefa interdita sistema de refrigeração em frigorífico no Paraná por risco grave a trabalhadores. Paraná, 2 set. 2025. Disponível em: https://g1.globo.com/pr/norte-noroeste/noticia/2025/09/02/frigorifico-investigado-acidentes-de-trabalho-no-parana.ghtml. Acesso em: 6 set. 2025.
NOSSO DIA. Frigorífico é investigado por esconder acidentes de trabalho no Paraná; são 400 ações em 2025. [S. l.], 2 set. 2025. Disponível em: https://nossodia.com.br/frigorifico-e-investigado-por-esconder-acidentes-de-trabalho-no-parana-sao-400-acoes-em-2025/. Acesso em: 6 set. 2025.
PARANÁ PORTAL. Frigorífico é interditado por risco grave a trabalhadores no Paraná. [S. l.], 2 set. 2025. Disponível em: https://www.paranaportal.com/ultimas-noticias/frigorifico-e-interditado-por-risco-grave-a-trabalhadores-no-parana/. Acesso em: 6 set. 2025.
XVCURITIBA. Força-tarefa interdita frigorífico no Paraná por condições inseguras de trabalho. Curitiba, 2 set. 2025. Disponível em: https://xvcuritiba.com.br/forca-tarefa-interdita-frigorifico-no-parana-por-condicoes-inseguras-de-trabalho/. Acesso em: 6 set. 2025.
TVC. Frigorífico interditado. YouTube, 2 set. 2025. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=uvJuzmnJyg8. Acesso em: 6 set. 2025.
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