BORDERLINE VS BIPOLAR: O QUE REALMENTE SEPARA O BORDERLINE DO BIPOLAR ?

DESVENDANDO O TRANSTORNO DE PERSONALIDADE BORDERLINE: DIFERENÇAS E SEMELHANÇAS COM O TRANSTORNO BIPOLAR

Um estudo recente de psiquiatras do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, Eduardo Martinho e Erlei Sassi, revelou que o Transtorno de Personalidade Borderline (TPB), ou Transtorno de Personalidade Limítrofe, atinge entre 1% e 3% da população mundial. Essa estatística, que também se aplica ao Brasil, coloca o TPB no mesmo patamar de prevalência de outras condições psiquiátricas conhecidas, como a esquizofrenia e o transtorno bipolar.

Mas, afinal, o que é o Transtorno de Personalidade Borderline e qual a sua principal distinção do Transtorno Bipolar?

BORDERLINE X BIPOLAR: PRINCIPAIS DIFERENÇAS

Embora ambos os transtornos apresentem oscilações de humor, a principal diferença entre o Transtorno de Personalidade Borderline (TPB) e o Transtorno Bipolar (TB) reside na natureza e duração dos sintomas.

Duração das Oscilações: No Transtorno Bipolar, as mudanças de humor são cíclicas e podem durar dias, semanas ou até meses, com episódios de euforia (mania) ou depressão. Já no TPB, as oscilações são abruptas e podem ocorrer em segundos, minutos ou horas, frequentemente desencadeadas por fatores externos.

Natureza dos Transtornos: O Transtorno Bipolar é um transtorno de humor, enquanto o TPB é um transtorno de personalidade. Isso significa que, no TPB, os sintomas afetam a forma como a pessoa se relaciona consigo mesma e com os outros, refletindo uma desordem na estruturação psíquica. O paciente com TPB vive em extremos, enfrentando dificuldades com sua identidade e com a regulação emocional.

Causas e Tratamento: As possíveis causas de cada transtorno também são distintas. Fatores genéticos, sociais, biológicos e hormonais são mais influentes no Transtorno Bipolar, enquanto no TPB os fatores ambientais têm maior peso. Em relação ao tratamento, enquanto os episódios do TB costumam melhorar com medicamentos, os pacientes com TPB podem não responder da mesma forma, encontrando alívio quando se sentem compreendidos e aceitos.

SINTOMAS E DESAFIOS NO DIAGNÓSTICO

Os sintomas do Transtorno de Personalidade Borderline são subjetivos, o que pode tornar o diagnóstico um desafio para os profissionais de saúde mental. A prevalência do TPB em ambientes de internação psiquiátrica é alta, chegando a impressionantes 30% dos casos.

A seguir, estão os principais sintomas do TPB:

1. Instabilidade Emocional

• Variações de humor em questão de minutos (amor x ódio, esperança x desespero).

• Emoções positivas e negativas exageradas, fazendo com que a alegria se torne euforia, a tristeza se torne luto e a frustração se torne ódio.

• Dificuldade extrema para lidar com críticas e rejeição.

• Sentimentos intensos de ira, que podem levar a agressões físicas.

2. Problemas de Autoimagem e Cognição

• Incapacidade de definir preferências, valores e objetivos.

• Dificuldade para definir sua sexualidade e identidade de gênero.

• Baixa autoestima e sentimento de inutilidade.

• Sentimento de vazio, tédio e ausência de sentido na vida.

• Medo extremo de ser abandonado ou rejeitado.

• Pensamentos paranoicos e episódios de dissociação (sensação de estar fora do corpo).

3. Dificuldades em Relacionamentos

• Padrão de relacionamentos afetivos instáveis e abusivos.

• Idealização e desvalorização de pessoas queridas por motivos injustificados.

• Apego excessivo às pessoas próximas e medo inexplicável de ser abandonado.

• Comportamentos inadequados para evitar um suposto abandono, como ameaças de suicídio.

• Atitudes agressivas e violentas em relação à pessoa amada quando imagina estar sendo abandonado ou rejeitado.

4. Comportamentos Impulsivos

• Abuso de substâncias como álcool, drogas e medicamentos.

• Apostas e compras por impulso que prejudicam a vida financeira.

• Promiscuidade, sexo desprotegido e cleptomania.

• Imprudência no trânsito.

• Comportamentos autodestrutivos como automutilação, para aliviar dores emocionais.

• Comportamento suicida (mais comum entre os homens).

Já os sintomas da bipolaridade tendem a se manifestar de forma diferente:

• Alternância de humor: Uma pessoa com bipolaridade frequentemente apresenta alternância entre um estado de humor excessivamente eufórico e seu humor habitual ou, em alguns casos, um semelhante à depressão. O humor eufórico ou deprimido tende a durar mais de uma a duas semanas.

• Excesso de autoestima: Em momentos de euforia, é comum a pessoa ter uma autoestima excessiva, o que pode levá-la a tomar decisões importantes ou arriscadas com mais facilidade.

• Necessidade reduzida de dormir: A necessidade reduzida de dormir costuma ser um dos primeiros sintomas a aparecer em um período de humor eufórico.

• Irritabilidade: Tende a surgir nos momentos de maior energia, especialmente quando os seus desejos são negados.

• Fala excessiva: Nos episódios de aumento da energia, é comum a pessoa falar excessivamente e com muita animação, mudando de assunto facilmente.

• Dedicação excessiva: Quando com mais energia, a pessoa bipolar pode começar a se dedicar excessivamente a tarefas e assumir múltiplas responsabilidades ao mesmo tempo.

• Tristeza: Em períodos de depressão, é comum a pessoa se sentir muito triste, sem esperança e com vontade de chorar.

• Perda do interesse ou prazer: A pessoa pode perder o interesse ou prazer nas atividades que normalmente fazem parte da sua rotina diária.

• Falta de energia: Em um período de humor triste ou deprimido, a pessoa pode se sentir sem energia, cansada e com muito sono.

• Dificuldade de concentração: A dificuldade de concentração é comum tanto nos momentos de euforia (por se distrair facilmente) quanto quando está triste (por falta de motivação).

GÊNERO E A BUSCA POR AJUDA

Uma disparidade notável é observada na busca por tratamento no Brasil, onde as mulheres são maioria entre os pacientes diagnosticados. Para cada três pacientes, dois são do sexo feminino. Os especialistas alertam, contudo, que essa diferença pode não refletir a real distribuição do transtorno, mas sim uma tendência de comportamento, já que homens com TPB podem estar subdiagnosticados ou se envolverem em situações de risco que os afastam do sistema de saúde.

O reconhecimento precoce e o tratamento adequado, que incluem acompanhamento médico e psicoterapia, são fundamentais para melhorar a qualidade de vida das pessoas afetadas por essa condição, independentemente do gênero.

CONCLUSÃO

O Transtorno de Personalidade Borderline e o Transtorno Bipolar são condições distintas, embora compartilhem a característica de causar oscilações de humor. A principal diferença, no entanto, está na natureza e na duração dessas oscilações: enquanto o TB se manifesta em ciclos de dias ou semanas, o TPB apresenta mudanças abruptas e mais frequentes. Além disso, o tratamento e as causas de cada transtorno também variam.

O TPB é uma condição de alta prevalência e seu diagnóstico precoce é essencial para melhorar a qualidade de vida dos pacientes. O tratamento, que envolve acompanhamento médico e psicoterapia, é fundamental para ajudar a pessoa a lidar com os desafios do dia a dia e a construir relacionamentos mais saudáveis. A conscientização e a desestigmatização dessas doenças mentais são cruciais para que mais pessoas se sintam encorajadas a buscar ajuda profissional.

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